segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

PRAÇA 22 DE NOVEMBRO

Sob o banco de pedra dormita o cão,
Encolhido, esquecido, desprezado.
Algemado à bíblia e ao terno batido
O idiota de plantão vocifera preceitos cristãos.
Camelôs marretam seus produtos.
Operários pisam o chão em passos brutos e velozes.
Estudantes estacam em papos bem humorados.
Discretas mariposas volteiam risos cálidos,
Oferecendo-se no difícil sacrifício do ofício.
Pombos doentes e intoxicados
Disputam com os transeuntes os espaços arborizados.
Meninos brincam na fonte.
As lojas gritam promoções e novidades.
Periódicos enxames humanos
Descidos dos trens ou da estação central.
"Aeroporto de baiano", como disse um dia, sorrindo,
A poeta Lea Aparecida de Oliveira.
Rasgam apressados a praça,
Olhos vazios, anônimos, pousam por instantes
Sobre saborosos seios, coxas deliciosas,
Inclusive os meus!...
Pago os livros, deixo a banca do Tiozinho
Lanço um derradeiro olhar ao cão abandonado...
Atravesso a praça tantas vezes perdida e conquistada.
O sol a beija.

[i]Macário Ohana Vangélis

Nenhum comentário: